Os riscos da moda dos seios fartos
Segundo a revista isto é de 23/01/2012, cresce a procura por implantes de silicone cada vez maiores e
aumenta o número de adolescentes que desejam fazer essa cirurgia
plástica. Especialistas indicam como evitar problemas. Apesar dessa reportagem ter sido publicada no ano passado, ainda esta muito atual nos dias de hoje.
As brasileiras estão redefinindo seu padrão de beleza corporal.
Querem seios cada vez mais fartos – e desejam isso cada vez mais cedo. A
constatação emerge de números obtidos por entidades que representam a
área da cirurgia plástica e também da observação dos mais experientes e
renomados cirurgiões plásticos do País do que acontece no dia a dia de
seus consultórios. “Há uma década, as mulheres do Brasil queriam ser
retas e musculosas. Agora buscam um corpo torneado e com mamas mais
projetadas”, afirma o médico José Horácio Aboudib, presidente da
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. O especialista, assim como a
maioria de seus colegas, também não se surpreende mais ao encontrar na
sala de espera de sua clínica meninas de 14, 15 anos, querendo saber
como aumentar o número do sutiã. “Antes, elas queriam mudar o nariz,
corrigir a orelha ou tirar uma pinta. Agora, vêm para aumentar os
seios”, diz o cirurgião plástico Alexandre Senra, de São Paulo,
referência em cirurgia plástica de mama. No consultório do mineiro
Sebastião Guerra, chefe da Cirurgia Plástica do Hospital Mater Dei, de
Belo Horizonte, 10% das consultas com jovens menores de 18 anos. “Em vez
de festas ou viagens, muitas pedem aos pais uma prótese de silicone
como presente de 15 anos”, conta o médico.
O desejo de ficar mais bonita é absolutamente legítimo. Os
especialistas alertam, no entanto, para a necessidade de ter bom-senso e
fazer as devidas ponderações na hora de escolher como e quando se
submeter à cirurgia. Aumentar demais o tamanho dos seios e colocar
próteses muito cedo traz riscos que não devem ser ignorados. No que diz
respeito ao volume, há chance de o contorno da prótese ficar destacado
na região do colo quando o diâmetro da mama não é respeitado. “Pode
haver também uma extensão não harmoniosa na direção lateral ou a
possibilidade de as próteses se encostarem, o que dá um efeito muito
artificial”, observa o cirurgião plástico Renato Saltz, radicado em Salt
Lake City, nos Estados Unidos, e ex-presidente da American Society of
Aesthetic Plastic Surgery. “Por isso é fundamental respeitar a anatomia
original da mama e seus limites”, diz.
Para evitar erros tanto na escolha do tamanho como na definição da
idade para colocar a prótese de silicone, a cirurgia plástica oferece
novidades e, principalmente, muito conhecimento. Em relação ao tamanho,
por exemplo, novos recursos dão uma noção antecipada dos resultados da
colocação do implante. Isso é possibilitado por programas de computador
que, a partir de imagens digitais das pacientes, fazem uma simulação em
3D de como ficará o corpo após a cirurgia. “O objetivo é ter uma ideia
mais realista do resultado”, explica o cirurgião plástico Ricardo
Cavalcanti, de São Paulo. O instrumento está sendo usado por
especialistas como Cavalcanti e o médico Alexandre Senra, de São Paulo,
entre outros.
Também é possível transpor as medidas do seio original para os sites
dos fabricantes e avaliar diversos tamanhos sugeridos. Além disso,
durante a cirurgia, os especialistas costumam testar alguns modelos
pré-selecionados antes de inserir o implante definitivo. “São tentativas
de aproximar o resultado final daquilo que a paciente espera. As
chances de isso acontecer são maiores se o cirurgião for experiente e a
mulher não alimentar falsas expectativas. Por isso deve-se conversar
muito antes”, afirma o cirurgião Renato Saltz. A apresentadora de
televisão Monica Apor, 31 anos, seguiu esse roteiro de recomendações e
colocou uma de 250 ml. “Queria um corpo mais harmonioso e consegui”,
diz.
Quanto à idade certa, há alguns parâmetros disponíveis. Nos Estados
Unidos, a recomendação da American Society of Aesthetic Plastic Surgery é
não fazer procedimentos cirúrgicos estéticos em menores de 21 anos. No
entanto, conforme pesquisa da entidade, até 1,5% das cirurgias de
aumento de mama nos EUA é feita em garotas com menos de 18 anos. A
sociedade internacional sugere não realizar o procedimento antes dos 16
anos.
Nessa questão, é preciso considerar ainda a maturidade emocional das
garotas. “Algumas meninas se sentem muito sedutoras e poderosas com seus
implantes. Podem precisar de apoio psicológico para pensar sobre o que
está acontecendo com elas”, diz o psiquiatra Bruno Raffa, do Hospital
São Lucas, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. O
papel dos pais é decisivo nessa situação. “Eles, que geralmente pagam
pelo procedimento, precisam participar da discussão e colocar limites.
Faz parte do crescimento”, diz o médico. Raffa aconselha os cirurgiões a
se certificarem de que a adolescente conseguiu entender todas as etapas
do procedimento e as mudanças pelas quais seu corpo passará. O médico
precisa também avaliar o grau de expectativa da menina. “Se ela tiver
prognósticos irreais, continuará insatisfeita”, diz o especialista.
Alguns médicos encaminham as pacientes mais jovens para uma avaliação
psicológica antes de decidir se fazem ou não a cirurgia.
O cirurgião plástico Senra usa aparelho que simula como será o resultado
Quando os passos são dados a seu tempo, a satisfação aparece. Foi assim com a estudante de direito carioca Thaissa Rodrigues, 23 anos, que colocou 230 ml há dois anos. A vontade começou aos 15 anos, mas seus pais conseguiram adiar a realização do desejo. “Ainda bem que eles fizeram isso, porque agora o resultado ficou muito bom e mais proporcional”, diz. A paulistana Julia Spinardi, 19 anos, viveu um processo parecido. “Queria aumentar os seios desde os 15, mas meus pais não deixaram e só pude fazer a cirurgia recentemente”, conta. “Agora estou contente.”
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