Depois de receber o diagnóstico de câncer, a primeira sensação, em
geral, é de choque. Já a segunda reação depende muito de cada pessoa.
Algumas acreditam que não vão superar a doença e ficam melancólicas,
enquanto outras se tornam mais proativas e buscam formas de lidar com o
problema. Quem segue Flavia Flores pelo Facebook sabe que ela faz parte
do segundo grupo.
Ela é de Florianópolis (SC), tem 35 anos, um filho adolescente, e
descobriu no ano passado ter câncer de mama. Saudável, jovem, sem
histórico de doença na família, o diagnóstico foi um baque para ela e
todos ao seu redor. "Tive medo quando descobri, tanto medo que mal
conseguia respirar de tão chocada que fiquei! Surtei. Eu me senti frágil
e desprotegida. Chorei durante dez dias", confessa.
Tudo começou quando ela sentiu um caroço durante um autoexame. Estava
em São Paulo, trabalhando no mercado de moda. Porém, como havia feito
uma cirurgia de aumento de seios na juventude, em sua cidade, e uma das
próteses havia rompido, resolveu voltar para lá e procurar seu médico.
"Ele dizia que pela minha idade e meu histórico familiar não seria
nada, mas durante a troca de implante, tirou o cisto e pediu uma
biópsia", conta ela. Como tudo foi bem com a substituição, ela esqueceu o
assunto. Porém, dez dias depois o médico ligou e disse que precisava
vê-la.
Começava aí sua luta contra a doença. "É surpreendente a força que você
encontra dentro de si após levar o susto. Aconteceu, é um fato. Daí, me
dei conta de que meu cabelo iria cair, como também meus cílios. Eu
pensava que não ia conseguir! Preferia morrer a ter que fazer
quimioterapia!", desabafa.
Seu médico recomendou que fosse retirada a mama, mas a reconstrução só
seria feita no fim do tratamento. Em sua imaginação, ela se via "careca e
sem uma mama". Porém, quis ouvir outra opinião e procurou um
especialista.
"Queria alguém moderno e encontrei. Minha mastologista e meu cirurgião
plástico têm a mesma idade que eu, são antenados e sensíveis. Meu
oncologista é o melhor!", diz ela. Suas duas mamas foram retiradas e,
no mesmo dia, colocadas próteses de silicone próprias para pacientes de
câncer.
Nada na Internet
Logo no início do tratamento com quimioter apia, previsto para ir até
maio de 2014, ela começou a procurar sites que trouxessem dicas para
pessoas na mesma situação que ela. E não encontrou nada. Pensando nisso,
criou sua própria página no Facebook, "Quimioterapia e beleza".
"Não gasto muito tempo pensando se o câncer vai voltar ou se está se
espalhando. Estou, sim, muito mais preocupada com as outras
cats,
como chamo minhas seguidoras, espalhadas pelo mundo, que visitam minha
página e lá encontram ideias, inspiração e muita alegria".
Ela conta que sua fanpage mostrou para a família e amigos o quanto era
forte ao enfrentar a doença, de forma tão explicita: "Todos se
admiraram. Passei a receber carinho de pessoas que eu não conhecia, de
todos os lados e isso me encheu de alegria!".
Mesmo assim, admite que se sentia muito só. "É um processo solitário.
Porém, ter minha família unida perto de mim foi lindo, pois há muito
tempo não tinha todos juntos e sempre senti falta disso", conta ela,
cujos pais estão separados desde que era criança.
Ela diz que seu filho, que tem 20 anos, manifestou sua serenidade e
solidariedade dormindo na mesma cama nos primeiros dias para
confortá-la. "Ele não se desesperou. Pelo contrário. Falava do ator
Reynaldo Gianecchini, que passou por tudo isso e está aí numa novela.
Ele vivia me lembrando que o 'câncer não é um bicho de sete cabeças,
quando descoberto a tempo'".
Suas amigas estão sempre presentes. "Ter uma pessoa ao nosso lado ajuda
muito", frisa. Já o namorado, que costumava lhe passar segurança, mesmo
morando longe, desapareceu quando as sessões de quimioterapia
começaram.
Muitas de suas seguidoras relatam que o mesmo aconteceu a elas: serem
abandonadas após o início do tratamento. "Daí em diante, no meu caso,
ele nunca mais atendeu aos meus telefonemas. Porém, outra pessoa
apareceu em minha vida, que me conheceu já sem cabelos, dá muita força e
me faz muito feliz! Pena que mora longe também."
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